domingo, 25 de outubro de 2009

Palavras ao Vento




    Ele sopra, sopra e sopra. Para além da minha janela apenas vejo vultos, rabiscos na claridade, passam de um lado para o outro, correndo, fugindo e escondendo. Deixam as ruas complectamente nuas e totalmente sem vida. E lá vai ele, destemido e arruaceiro, devastando tudo o que vê pela frente. Estou quieto, mudo e congelado nesse canto, nesse minúsculo espaço que me foi concedido, incapaz de me mexer, olho somente para fora da minha janela e contemplo toda a sua glória e toda a sua força sumptuosa. Os carros, os bancos, telhados, janelas e árvores, nada consegue resistir a sua violência, são apenas meros peões na frente de uma rainha imponente, e com um simples toque ou um simples acto são instantâneamente levados pelo seu poder e a sua fúria. As lágrimas já tomavam conta do meu rosto. Eu quero estar alí, quero viver todo aquele momento, sinto necessidade de estar simplesmente imóvel. No entanto não quero morrer, me preocupo demasiado com o futuro.
    Cheio de energia e voracidade acaba por destruir o que resta de um prédio, varre todo o chão da imundície e leva consigo os destroços de varias vidas. E a cada minuto que passa, mais a sua íra aumenta, a sua sede de sangue e a sua fome de destruícão. Ele olha para mim, pressente a minha presença a quase cinquenta metros de distâcia, e vem ao meu encontro. Mais lentamente do que o normal. Respirando calmamente. Quase cheio de graça. E se aproximou, beijou minha face, e sugou a minha dor. Fagulhas entram na minha carne e dilaceram cada milímetro desta, e o frio consola a minha alma enquanto olho para baixo e vejo um homem, um corpo pequeno e vazio, sujo e cheio de pecado. E pelo canal que me levava para cima precipitei, e finalmente, não senti uma grande fúria a me consumir, entretanto senti uma fraca brisa quente e sussurros ao pé do ouvido. E não olhei mais para trás. Para o norte voei, lendo essas palavras ... lendo essas palavras escritas na areia da praia que são somente e unicamente, palavras mumuradas ao vento.

4 comentários:

  1. Interessante, o teu texto. Tem um teor de certo tenebroso, mas não deixa de ser interessante.

    É engraçada a forma como o ínicio se desenrola misteriosamente, e que após uma segunda leitura com o desfecho já conhecido, se clarifica.

    No entanto levantou-me algumas questões, penso que me poderás esclarecer amanhã.

    Um abraço,
    Jão

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  2. Ah! Quase me esquecia, gosto bastante da imagem que escolheste...

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  3. Parabéns pelo texto e pelo Blog!
    A escrita é um processo árduo. É preciso continuar!

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